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Plano de previdência pode virar dor de cabeça. Entenda

Com juros baixos e crise na Europa, rentabilidade das aplicações sofre queda. Aposta para aposentadoria, fundos têm ganho pequeno e taxas podem até significar perdas

Em matéria de rentabilidade em investimentos, o mar não está para peixe no Brasil. Nos últimos 12 meses, aplicações financeiras mais sofisticadas, como CDI (renda fixa) e o índice Ibovespa (renda variável), registraram rendimentos pífios. O primeiro rendeu 7,40% no período. O segundo registrou queda de 9,56%. Ambas as performances foram puxadas pela queda nas taxas de juros básicos da economia e pela crise europeia. Mas a situação é pior ainda nos planos de previdência privada, onde o rendimento líquido encolheu mais ainda por causa dos efeitos das mudanças na macroeconomia do país, da crise na Europa e das altas taxas de administração cobradas pelas seguradoras. 

Pesquisa realizada pela consultoria NetQuant com 536 planos de previdência para investidores individuais mostra que existem dois movimentos contraditórios em torno dessa opção de investimento, usada, em geral, por pessoas que querem garantir mais tranquilidade à sua aposentadoria. De um lado, o patrimônio desses planos está crescendo a olhos vistos. Nos últimos 12 meses, encerrados em abril deste ano, seu patrimônio líquido cresceu 22,19% e nos últimos cinco anos 205,18%. Por outro lado, de 2008 a 2013, a rentabilidade patinou em 52,66% nos planos em renda fixa e em 61% nos multimercados sem renda variável. Em 12 meses, o rendimento foi de 6,60% e 7,53% respectivamente, o que mostra que o primeiro praticamente empatou com a inflação e o segundo rendeu apenas um ponto percentual a mais. 

O levantamento indica também que existe uma relação direta entre as altas taxas de administração cobradas pelos planos de previdência e a baixa rentabilidade que se alcança nesses investimentos. Quanto mais alta é a taxa, menor o rendimento. Segundo a NetQuant, os planos de renda fixa da previdência complementar com taxas de administração de até 1,5% ao ano tiveram rendimento líquido de 7,23% em 12 meses. Já os que cobram taxas entre 1,5% e 3% renderam 5,69% e os que cobram taxas iguais ou superiores a 3% tiveram rendimento menor ainda, 5,05%. 

O mesmo movimento pode ser observado nos planos que investem em multimercado, que tiveram a rentabilidade encolhida de 8,08% para 5,63% e para 4,96%, respectivamente, conforme as taxas aplicadas. O preço do investimento também abala os rendimentos dos planos com renda variável, nos quais a média dos ganhos dos investidores caiu de 5,3% para 3,7% e para 1,40%, respectivamente em um ano, conforme aumentam as taxas. “Quando a Selic estava lá em cima, ninguém se importava com as taxas de administração, mas agora o custo do investimento ficou particularmente importante, principalmente porque esse segmento (previdência complementar) é caro e vem crescendo muito em volume no varejo”, observa Marcelo Nazareth, sócio da NetQuant. 

Olho do dono Diante disso, clientes que até pouco tempo não acompanhavam os rendimentos dos planos, ou não se importavam com as taxas de administração que incidem sobre eles, estão sendo convocados pelos seus orientadores financeiros, ou pelos gerentes de suas contas bancárias, para uma revisão da estratégia de investimentos. A ideia é promover a portabilidade para planos com taxas menores e rendimentos melhores. A dentista Andréia Salvador fez um plano de previdência privada em 2006. “Nunca perguntei ao gerente qual era a rentabilidade do investimento ou o tamanho das taxas que incidiam sobre minha rentabilidade”, reconhece. Depois que trocou de orientador financeiro, Andreia já migrou de plano uma vez e, com isso, garantiu melhoria de cerca 1,5% ao ano na rentabilidade. Agora pretende fazer nova portabilidade para que seu dinheiro renda mais. 

Com o acúmulo dos anos, o impacto das taxas no bolso do investidor é significativo. Segundo a orientadora de finanças pessoais Maria Inês Prazeres, no caso de um plano com aplicação em 20 anos, contribuição mensal de R$ 500, reserva acumulada atual de R$ 100 mil e rentabilidade estimada de 8% ao ano, com taxa de carregamento de 2% e taxa de administração de 1,5%, o montante no final do período seria de R$ 588.617,80. Nas mesmas condições, se a taxa de administração sobe para 2,5%, ao fim de duas décadas a reserva do investidor vai encolher R$ 85.758,24, fechando a R$ 502.285,56. Ou seja, o montante que ele levará para casa será 15% menor. 

De acordo com Nazareth, o patrimônio dos planos de previdência privada cresce porque os investidores acabam sendo levados a comprá-los sem conhecê-los bem. “A maioria não sabe que o seu sonho de ter uma aposentadoria tranquila pode ficar comprometido no fim do processo. Ao adquirir um plano de previdência privada, é preciso levar em conta as taxas de administração e de carregamento”, explica.

Gestão faz diferença

Apesar do ganho ruim na média, o desempenho dos planos de previdência privada depende muito da gestão, mostra o estudo da NetQuant. Segundo a pesquisa, em cinco anos o campeão da rentabilidade foi um plano com fundo multimercado sem renda variável da Entidade Luterana de Previdência, que registrou rentabilidade líquida de 129,74% entre 2008 e abril de 2013. Para se ter uma ideia, nesse período a inflação ficou em 32,4% e os juros médios no mercado em 64%.

Outros papéis também deram bastante retorno aos investidores no mesmo intervalo de tempo, como um plano da Icatu, que aplica até 49% em renda variável (rendimento de 129,62%), o multimercado Icatu sem renda variável (111,11%) e um plano da Mapfret Seguros que aplica até 49% em renda variável (107,41%). Entre os dez planos com maior rentabilidade nos últimos cinco anos, o rendimento mínimo foi de 79,84%, duas vezes superior à inflação. 

Flaviano Castro é orientador financeiro da dentista Andreia Salvador. Ele chama a atenção para o fato de que se os investimentos forem feitos em PGBL, num bom plano, os rendimentos podem ficar bem acima da média do mercado, dependendo do gestor do fundo. “Existem muitos fundos diferentes. Em certos casos, se você aplica mais de R$ 500 ao mês, a taxa de administração pode cair e chegar a 0,5% ao ano. Já a taxa de carregamento é cobrada na saída, mas só quando o dinheiro é retirado num prazo inferior a cinco anos. Tudo isso influencia no rendimento”, diz. 

Na avaliação da orientadora de investimentos Maria Inês Prazeres, ao aplicar seu dinheiro na previdência complementar, o investidor não pode levar em conta somente a rentabilidade, mas precisa considerar quais são os seus objetivos. “O PGBL (vantajoso para quem faz a declaração de Imposto de Renda no modelo completo, porque conta com incentivos fiscais) garante ótimos ganhos para o investidor. Para quem tem objetivo de longo prazo, o plano tem excelente performance”, garante. (ZF)

 

Fonte: em.com.br